“As pessoas pedem demissão de seus chefes, não das empresas”. O que parece ser apenas um ditado popular foi confirmado pela consultoria de recrutamento Michael Page, confirmando que a maior parte daqueles que pedem as contas tomam a decisão motivados por divergências com a chefia.

Uma outra pesquisa, da consultoria Gallup, mostrou que que 77% dos que dizem gostar do seu emprego descrevem sua relação com os chefes como positiva. No caso daqueles infelizes com o trabalho, esse número é de apenas 23%. E fica bem pior para as pessoas que odeiam o que fazem: só 4% deles se relacionam bem com seus líderes.

E se você é um desses que acorda de manhã com o pensamento “lá vou eu ter que encarar a fera de novo”, o que fazer?

 

Você gosta do seu emprego?

Vamos começar pela parte mais fácil. Se você odeia não apenas o seu chefe, mas também o trabalho, já sabe o que precisa fazer, né? Pular fora assim que puder. A raiz da sua insatisfação neste caso talvez nem seja o chefe, mas o fato de você estar de saco cheio do que faz. Comece a buscar um novo emprego hoje.

 

Será que o problema não é você?

Antes de assumir que o seu chefe é um idiota, preciso te perguntar: você tem certeza de que seu líder é mesmo insuportável? Algumas questões que podem te ajudar nesta reflexão:

será que seu chefe não te monitora em excesso porque você raramente entrega as coisas no prazo combinado? Quando seu chefe te dá feedback construtivo (alguns chamariam de negativo), você leva para o lado pessoal? Quando avalia críticas que recebeu da chefia, você identifica áreas nas quais você poderia melhorar? Não descarte a possibilidade de que você pode estar fazendo algo errado – e é papel da liderança não permitir que isso continue acontecendo. 

 

Coloque-se no lugar do chefe

Eu já tive um chefe que era uma boa pessoa, mas que por conta da pressão absurda por entrega de resultados em um projeto gigante, mal conseguia tomar conta do time e nos dar a atenção que merecíamos e precisávamos. Isso levou mais de um ano. Passada a fase crítica do projeto, as coisas melhoraram significativamente e a equipe teve o chefe “de volta”. Não me arrependi pelo voto de confiança que dei a ele. Cheguei a pensar em me demitir, mas segurei a onda. 

Daniel Goleman fala de como a prática da empatia com os chefes pode ter um impacto muito mais positivo do que imaginamos. Segundo Goleman, podemos aprender a ter empatia. Isso mesmo, é uma questão de prática, como tantas outras coisas. Um instituto do Texas dedicado ao estudo a mente mostrou que quando praticamos empatia de forma proativa e consistente, mudamos a forma como vemos e avaliamos os outros. 

Vamos considerar que nada do que discutimos até agora se aplica ao seu caso: você gosta do seu emprego, seu chefe pega mesmo no seu pé e tem sido difícil ter empatia. Por onde seguir?

 

Estude o seu chefe

Entender do que a chefia gosta – e do que não gosta – é essencial. Se seu chefe é um daqueles caras que demora para engrenar pela manhã, evite interações logo cedo. Se o big boss não curte emails longos, você já sabe: mensagens mais curtas e diretas, sem enrolação. Se ele gosta de gerenciar detalhes (o que pode ser um problema…), passe a mandar updates sem que ele te peça. Eis uma prática que aprendi com um caro amigo: ao invés de mandar para o chefe um email semanal com updates, ele enviava uma mensagem de voz. Pode ser uma gravação no WhatsApp. Uma mensagem gravada de 1 ou 2 minutos substitui um email gigante. Tive um diretor que adorava detalhes e infernizava a vida da galera pedindo informações a todo momento. Passei a mandar para ele, quase que diariamente, um volume tão grande de updates que ele não tinha tempo de consumir e, assim, não me perturbava pedindo atualizações 🙂 

 

Converse com seus colegas

Se você já está certo de que o problema é o chefe, aposto que você não é o único na sua equipe passando por isso. Converse com os colegas de trabalho. Veja como eles se sentem a respeito, entenda as razões pela quais eles também odeiam a liderança do time e, principalmente, que sugestões apresentam para tentar melhorar a situação. Vale cuidado ao abordar as pessoas e tratar do tema. Não organize reuniões para discutir a questão; aborde os colegas de maneira informal, de repente aproveitando o momento do cafezinho na copa. Tenha tato ao selecionar as pessoas com as quais você vai conversar – algumas delas podem tomar o partido da chefia e ir correndo para o big boss informar que você está iniciando com complô contra ele. 

 

Conversando com seus colegas você vai ter uma visão mais clara do impacto que seu chefe está trazendo para a equipe. E de potenciais tentativas de solução da coisa.

 

Agora é hora de conversar com o chefe

Sim, é delicado. E muita gente não vai ter coragem de tomar este passo, mas é necessário. Jamais comece a conversa atacando o chefe ou abrindo na frente dele uma lista de coisas com as quais você está insatisfeito. Fale da sua percepção de que a comunicação entre vocês não está fluindo bem. Pergunte se há algo que você possa fazer para melhorar as coisas. Oferecer ajuda para dissipar a nuvem entre vocês vai ser mais positivo – e produtivo – do que partir para o ataque. Você não precisa mentir, culpando-se pelo problema de relacionamento, pois neste caso, se seu chefe for mesmo um daqueles idiotas, vai colocar a culpa em você e imediatamente começar a mandar bala em sua direção.

A ideia deste papo é sair com uma listinha de ações: o que você e seu líder podem fazer para que o relacionamento profissional entre vocês melhore?

Se o papo não der resultado, avalie se uma transferência para outra área na sua empresa é possível – novos ares e nova chefia vão te fazer bem. Caso não seja uma opção, passe para o próximo ponto da lista…

 

Reportar o chefe para o RH?

Fiz questão de colocar o tópico em forma de pergunta por achar que este é um daqueles pontos que vai para a coluna do “Depende“. 

Se o problema é mesmo o chefe, cujo comportamento afeta não somente você, mas toda a equipe, teoricamente a coisa certa a fazer seria fazer uma reclamação oficial para o departamento de Recursos Humanos. Mas como se diz por aí, “na prática a teoria é outra“. Se reportar o chefe for te trazer problemas na empresa ou te atrapalhar na busca por um novo emprego, é melhor não fazer. Em uma visão mais positiva, amanhã você vai ter um novo chefe e o crápula que tem te perturbado tanto vai fazer parte do passado. O stress de lidar com o RH pode não valer a pena. 

Por outro lado, não levando o nome dele para o RH você pode estar contribuindo para que os abusos da liderança sigam impactando várias outras pessoas. A decisão não é fácil. Sem falar que não dá para saber que ações o RH vai tomar caso receba a reclamação. Se decidir reportar o chefe, lembre-se de apresentar evidências. 

 

Projeto “É hora de pular fora”

Você já fez tudo o que podia. Mesmo que adore o seu trabalho, se você não vislumbra a mudança na chefia e não é mesmo possível mudar de área, é hora de partir. Ninguém merece um ambiente nocivo de trabalho. Algumas dicas deste post sobre transição de carreira podem te ajudar. Com tanta gente infeliz com o emprego, é triste ter que deixar um trabalho do qual você gosta por causa de uma chefia incompetente. Tentando ser positivo de novo, visualize um novo emprego no qual você vai ter uma liderança de verdade, onde haja espírito de equipe e uma empresa na qual você vai ter muito mais satisfação profissional.

Se você infelizmente é um daqueles que trabalham com chefes abusivos, saiba que a lista de pessoas nesta situação é grande. A boa notícia é que as empresas hoje em dia estão muito menos tolerantes a líderes que desrespeitam suas equipes – ou mesmo que não se comportam de forma ética e responsável fora do ambiente de trabalho. Quem nunca viu aqueles casos de gente que foi demitida depois que vídeos publicados em mídias sociais mostraram essa galera ofendendo pessoas no meio da rua? 

Terminando com uma sugestão engraçada de um amigo que inventou uma solução criativa: mandar o currículo do chefe – sem que ele saiba, claro – para um monte de empresas. Se alguém gostar dele e o contratar, problema resolvido!